É desse jeito que vejo o mundo.
Sob a mesma perspectiva. É só ler esse texto pensando que também compartilho
das mesmas ideias. Ah, sim, conheço boa parte de Europa e já morei nos EUA. Prefiro
aprender coisas que me deixam culturalmente mais rico à gastar meu soado dinheiro em festas ao lado de pessoas fúteis que fingem ser legais. No final
você percebe que encontrar o amor da sua vida numa balada não serve de nada,
pois depois as diferenças aparecem com o tempo e que gastar não é um problema,
mas fazer as escolhas erradas sim. Mas como cada animal racional tem sua limitação (não percebemos aos 20 anos) e escolhas...
Só leiam se não tiverem medo de encontrar palavras que servem
como soco na cara dos medíocres. Ah, prefiro postar coisas que são intelectuais
à fotos dos meus tênis, carro, camisa falsificada, que digo ser de marca. E prefiro
tomar uma Pint de uma boa cerveja do que um uísque falsificado de 100 reais.
“Adorei
o seu sapato”, disse uma amiga para mim certa vez.
“Legal,
né? Eu comprei em uma feira de artesanato na Colômbia, achei super legal
também”, eu respondi, de fato empolgada porque eu também adorava o sapato. Foi
o suficiente para causar reticências quase visíveis nela e no namorado e,
se não fosse chato demais, eles teriam dado uma risadinha e rolariam os olhos
um para o outro, como quem diz “que metida”. Mas para meia-entendedora que sou,
o “ah…” que ela respondeu bastou.
Incrível
é que posso afirmar com toda convicção que, se tivesse comprado aquele sapato
em um camelô da 25 de março, eu responderia com a mesma empolgação “Legal, né?
Achei lá na 25!”. Só que aí sim eu teria uma reação positiva, porque comprar na
25 “pode”.
Experiências
como essa fazem com que eu mantenha minhas viagens em 13 países, minha fluência
em francês e meus conhecimentos sobre temas do meu interesse (linguística,
mitologia, gastronomia etc) praticamente para mim mesma e, em doses
homeopáticas, comente entre meu restrito círculo familiar e de amigos (aquele
que a gente conta nos dedos das mãos).
Essa
censura intelectual me deixa irritada. Isso porque a mediocridade faz com que
muitos torçam o nariz para tudo aquilo que não conhecem, mas que socialmente é
considerado algo de um nível de cultura e poder aquisitivo superior. E assim
você vira um arrogante. Te repudiam pelo simples fato de você mencionar algo
que tem uma tarja invisível de “coisa de gente fresca”.
Não
importa que ele pague R$ 30 mil em um carro zero, enquanto você dirige um carro
de mais 15 anos e viaja durante um mês a cada dois anos para o exterior
gastando R$ 5 mil (dinheiro que você, que não quer um carro zero, juntou com o
seu trabalho enquanto ele pagava parcelas de mil reais ao mês). Não importa que
você conheça uma palavra em outra língua que expressa muito melhor o que você
quer falar. Você não pode mencioná-la de jeito nenhum! Mas ele escreve errado o
português, troca “c” por “ç”, “s” por “z” e tudo bem.
Não
pode falar que não gosta de novela ou de Big Brother, senão você é chato. Não
pode fazer referência a livro nenhum, ou falar que foi em um concerto de música
clássica, ou você é esnobe. Não ouso sequer mencionar meus amigos estrangeiros,
correndo o risco de apedrejamento.
Pagar
R$200 em uma aula de francês não pode. Mas pagar mais em uma academia, sem
problemas. Se eu como aspargos e queijo brie, sou “chique”. Mas se gasto os
mesmos R$ 20 (que compra os dois ingredientes citados) em um lanche do Mc
Donald’s, aí tudo bem. Se desembolso R$100 em uma roupa ou acessório que gosto
muito, sou uma riquinha consumista. Mas gastar R$100 no salão de cabeleireiro
do bairro pra ter alguém refazendo sua chapinha é considerado normal. Gastar de
R$30 a R$50 em vinho (seco, ainda por cima) é um absurdo. Mas R$80 em um abadá,
ou em cerveja ruim na balada, ou em uma festa open bar… Tranquilo!
Meu
ponto é que as pessoas que mais exercem essa censura intelectual têm acesso às
mesmas coisas que eu, mas escolhem outro estilo de vida. Que pode ser até mais
caro do que o meu, mas que não tem a pecha de coisa de gente arrogante.
O
dicionário Aulete define a palavra “arrogância” da seguinte forma:
1. Ação
ou resultado de atribui a si mesmo prerrogativa(s), direito(s), qualidade(s)
etc.
2. Qualidade
de arrogante, de quem se pretende superior ou melhor e o manifesta em atitudes
de desprezo aos outros, de empáfia, de insolência etc.
3. Atitude, comportamento
prepotente de quem se considera superior em relação aos outros; INSOLÊNCIA: “…e
atirou-lhe com arrogância o troco sobre o balcão.” (José de Alencar, A
viuvinha))
4. Ação
desrespeitosa, que revela empáfia, insolência, desrespeito:
Suas arrogâncias ultrapassam todo limite.
Pois
bem. Ser arrogante é, então, atribuir-se qualidades que fazem com que você se
ache superior aos outros. Mas a grande questão é que em nenhum momento coloco
que meus interesses por línguas estrangeiras, viagens, design, gastronomia e
cultura alternativa são mais relevantes do que outros. Ou pior: que me fazem
alguém melhor que os outros. São os outros que se colocam abaixo de mim por não
ter os mesmos interesses, taxar esses interesses de “coisa de grã-fino” (sim,
ainda usam esse termo) e achar que vivem em um universo dos “pobres legais”,
ainda que tenham o mesmo salário que eu. E o pior é que vivem, mesmo: no
universo da pobreza de espírito.
Um comentário:
Exatamente isso! Muito bom texto!
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