SOBRE O BLOGUEIRO

Sou um Beatlemaniaco. Tudo começa assim... Fiquei reprovado duas vezes no Mobral, mas nunca desisti. Hoje, sou doutor em Parapsicologia formado na mesma turma do Padre Quevedo; sou antropólogo e sociólogo formado, com honra, em cursos por correspondência pelo Instituto Universal Brasileiro. Em minha vasta carreira acadêmica também frequentei até o nono ano de Medicina Cibernética, Letras Explosivas, Química da Pesada, Direito Irregularmente torto e assisti a quase todas as aulas do Telecurso 2000 repetidas vezes até desistir de vez. Minha maior descoberta foi uma fábrica secreta de cogumelos venenosos comestíveis no meio da Amazônia Boreal. Já tive duas bandas de Rock que nunca tocaram uma música se quer. Comi duas vezes, quando criança, caspas gigantes da China pensando que era merda amarela. Depois de tudo isso, tornei-me blogueiro. Se eu posso, você pode também. Sou um homem de muita opinião e isso desagrada muita gente. Os temas postados aqui objetivam enfurecer um bom número de cidadãos.

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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

CONTO: “O Estranho caso da jovem de Apophistyphon”



Na imagem tem uma garota nadando, ela representa a inocência (Helena em todas as descrições), ela está nua, não se esconde atrás de nenhuma máscara ou roupa. Os homens de máscaras Venezianas são os “carnais” que escondem seus rostos, são as pessoas comuns que se preocupam com sua imagem perante a sociedade. Os seres sobrenaturais são as forças da natureza, os sonhos, o poder de conseguir algo impossível.


Allan Cassiano



Bruno Coriolano de Almeida Costa

ATENÇÃO: Dizem que nem todos conseguem ler esse conto até o seu final, especialmente no horário recomendado: depois da meia-noite, hora essa que muitos acreditam ser o momento onde o portal entre dois mundos se abre. Claro que isso não passa de uma lenda, superstição ou coisa do tipo. Você não precisa fazer isso se não quiser, mas se assim fizer, boa sorte! Como dizem por ai “existem mais mistérios entre o céu e a terra do que sonhamos em nossa vã filosofia.” E todos sabem que” o adormecer da razão gera monstros”.

Caro Felipe, você sempre reclamou que eu nunca lhe escrevia e que nas raríssimas vezes que assim eu procedia, nunca se mostrou satisfeito com os acontecimentos da nossa cidadezinha, Apophistyphon. Pois bem, agora você pode me agradecer pelas notícias que chegam às suas mãos nesse momento por meio dessa carta. Subitamente, sinto um frio estranho percorrer, de forma intensa e amedrontadora, todo o meu corpo, futuro candidato a cadáver. Exatamente, todos os meus um metro e sessenta e nova centímetros. Tenho a incrível e não confortante sensação de que estou sendo observado. Não estou certo de que pela manhã, quando você tiver terminado de ler essa carta, eu ainda terei pulso, mas se a morte vier me buscar, que pelo menos, encontre-me devidamente preparado.  Então, que os relatos, aqui presente, lhe tenham alguma serventia. Não hesitarei em contar cada detalhe e se o cavaleiro do apocalipse já se mostrar pronto para cumprir sua missão, eu já terei, indubitavelmente, completado a minha.
Ontem encontraram os restos mortais de uma jovem no pequeno rio que se encontra próximo à casa do morro. Acredito que ainda se lembre do lugar, pois se trata de um casarão velho e abandonado com aspecto sombrio e macabro. Nós costumávamos ficar espiando pela janela suja que dava para um quarto. Essa morada era ornamentada de velhos quadros empoeirados. Verdadeiras testemunhas de tempos bem remotos e singularmente sinistros.
 O corpo em questão estava bastante deteriorado devido à ação severa do tempo e dos peixes. Ninguém tinha idéia de quem se tratava, mas ontem mesmo os peritos vieram das cidades vizinhas para tentar descobrir de quem era aquele cadáver podre que antes havia pertencido a alguém que reluzia a inocência de uma pobre alma que caíra nos braços da serpente maligna e se perdera para toda a eternidade.
Mas o que todos descobriram ontem já não era novidade para a minha pessoa. Infelizmente, eu já tinha conhecimento dos acontecimentos que precederam aquelas situação toda. Ela se chamava Helena, nome bonito e até poético. Era uma mocinha muito conhecida na cidade. Você não a conheceu porque quando partiu, ela ainda era muito jovem.
Não sei se lembra que aos domingos costumávamos freqüentar os grupos de jovens naquela pequena capela do centro. Na nossa época somente os homens participavam dos grupos dominicais, mas com a morte do padre Pedro, que Deus o tenha, as coisas mudaram muito por aqui. O novo padre, que se chama Caronte, é um tipo de sacerdote totalmente diferente do anterior. Ele é bem menos conservador e permitiu várias mudanças na igrejinha. Uma dessas mudanças estava ligada aos grupos de jovens. Quando ele se tornou padre, deu o direito às meninas de também fazerem parte desses grupos. O que para muitos não foi algo tão alarmante assim, pelo contrário, pareceu ser mais democrático, uma vez que Deus não teria feito restrições a ninguém e todos teriam o mesmo direito de comungar e se sentir mais próximos do Criador.
Como falei, esse comportamento do padre foi aceito com bastante entusiasmo entre os moradores de Apophistyphon. Você sabe que tudo que acontece de novo na cidade vira o maior rebuliço e se torna o tema principal nas mesas de bares e na feira. Todos só falavam nisso durante meses, eles achavam que o sacerdote estava modernizando a igreja e que isso era normal na cidade grande, não havia problema, pois o padre Pedro seguiu sempre um pensamento tradicionalista. Para muitos, estava até na hora de mudar algumas coisas em nossa velha Apophistyphon. Meu caro amigo, a voz do povo é a voz de Deus. Uma avalanche de mudanças estava por vim.
O padre Caronte é um sujeito muito estranho, não é muito de conversar e nem de fazer amigos. Sempre que tentamos nos aproximar, ele sempre dá um jeito de nos afastar argumentando estar muito ocupado. Certo dia, ele terminou a reunião de domingo mais cedo. Teria sido algo muito normal se ele tivesse dispensado a todos: meninos e meninas. Foi aí que comecei a achar que algo estava tomando um caminho muito dubitável. Esperamos as meninas saírem de dentro da capela, que se encontrava trancada a sete chaves e perguntamos o que tinha acontecido, mas nenhuma delas falou nada. Todas estavam com um semblante de alguém que havia tido contato com um ser das trevas. Assustadas e silenciadas, era assim que elas se mostraram.
O tempo foi passando e as coisas foram ficando ainda piores. Conversamos com os nossos pais sobre o comportamento do padre Caronte, mas eles nos desprezavam e estavam sempre muito ocupados para nos dar atenção.
Insatisfeitos e incomodados com algo, Getúlio e eu fomos até a casa do padre, mas ele não estava por lá. Entramos, mesmo sabendo que não havia ninguém, e encontramos vários livros sobre a mesa da sala. Algo normal para alguém extremamente culto, se não fosse bastante chocante devido aos títulos. Tratava-se de livros nada cristãos. Não lembro o nome de todos, mas um em especial me chamou a atenção: Liber Al vel Legis ou o Livro da Lei de Thelema, de um bruxo inglês chamado Aleister Crowley. Dizem as más línguas que esse tal de Crowley era um seguidor de Satã e se autodenominava “a Besta’’. Imediatamente abandonamos aquele covil e seguimos, chocados com o que vimos, em busca de aprofundarmos o nosso conhecimento sobre o que acabáramos de ver.
O que um padre fazia com livros considerados demoníacos? Era exatamente para essa pergunta que queríamos encontrar uma resposta. Procuramos ajuda em vários locais, mas como nossa biblioteca publica não tinha mais do que dez livros velhos e maltratados não conseguimos mais informações sobre o conteúdo dos textos e nem sobre o seu escritor.
Helena sempre foi a menina mais bela da cidade. Ela tinha um olhar muito sedutor, olhos azuis e pele perfeita, tinha um corpo não de menininha, mas de uma mulher sedutora, tinha pernas grossas e seios volumosos e singularmente bonitos; chamavam a atenção no meio da multidão, mas a menina tinha um pequeno problema: a sua bem aparente inocência. A pobrezinha era muito imatura; nunca havia aprendido a dizer não para uma pequena tentação. Não era candidata a freira por opção, tinha começado a freqüentar as reuniões depois de uma briga com o próprio pai, que se encontrava preso por ser suspeito de roubo. Era de família complicada. Desestruturada mesmo antes dela nascer.
Encontros entre o padre e a menina foram se tornando freqüentes e ultrapassavam todos os limites da moral. No começo, eram mais controlados devido ao ambiente, eles se viam na igreja, mas depois começaram a se encontrar nas dependências do sujeito. Caronte era um ser desprezível. Ele estava mantendo relações sexuais com todas as meninas que freqüentavam as reuniões dominicais. Um dia desses flagrei uma orgia promovida pelo verme, que mais parecia um barqueiro que estava levando as meninas todas elas, sem nenhuma exceção, para o inferno por um rio apodrecido pelos atos pecaminosos da humanidade. Um verdadeiro abandono da fé. Um lobo vestido em cordeiro.
Mais uma vez tentei conversar com meus pais sobre o que eu acabara de ver e mais uma vez fui desprezado. Tudo inútil. Pobres são os espíritos dos adultos, eles acham que sabem de tudo, mas a realidade é bem diferente, são pessoas que não aprenderam nada e só acreditam no que eles idealizam como verdade. Suas verdades; estão certos.
Resolvi desistir de procurar ajuda e decidi agir por conta própria, alguém iria acreditar se visse. Levei Raul da padaria para confirmar o que eu estava falando. Queria que alguém popular pudesse ver as coisas que eu via. Invadimos a casa do padre e procuramos por longas horas o livro da Lei. Mas o sujeito era muito esperto, não encontramos nem vestígios de sua existência. Ganhei o título de mentiroso e perdi ainda mais a credibilidade quando fomos flagrados pelo padre Caronte. Isso mesmo, subitamente, o padre, bem...  O desgraçado entrou calmamente pela porta da frente como se não soubesse de nada e como se fosse vítima de alguma injustiça, acusação sem nenhum fundamento. Os enviados do demônio deviam ter muito mais força do que pensei.
Parei de procurar provas contra Satanás e comecei a acreditar que se todos queriam tratar o mal como bem, que assim fosse então. Encontrava o padre e não trocava nem um singelo bom dia. O diabo me olhava como se fosse me destruir com aqueles olhos avermelhados. Mais pareciam duas tochas de fogo prontas para me desintegrar em questão de segundos.
Um dia, para minha surpresa, Helena veio ao meu encontro e contou que precisava de minha ajuda. Ela me procurou porque ouviu boatos na cidade de que eu tinha provas contra o senhor Caronte. A menina me relatou varias coisas absurdas e ainda que estava grávida, esperando um filho do padre. Um anti-Cristo talvez. Não poderia deixar a pobre moça sem uma mão amiga ou amparo. Na verdade, aquela era a minha chance de mostrar que tudo que eu já havia falado não era fruto da minha imaginação.
Após uma longa conversa, decidimos contar primeiro ao padre Caronte, que aquela altura não sabia de nada ainda sobre a gravidez, mas o que nós decidimos fazer em conjunto foi quebrado por um ato impensável de Helena. Ela saiu da minha casa antes que eu pudesse perceber que estava falando sozinho enquanto procurava um gravador velho para registrarmos a conversa com o sacerdote. A menina estava, e eu não a condenei por isso, muito chocada com tudo que havia passado até então.
Quando tomei conhecimento do que aconteceu ontem, fiquei perplexo e não sabia mais o que fazer e a quem contar, por isso; estou lhe comunicando tudo. Os peritos que analisaram o corpo disseram que ela havia cometido suicídio. Juravam de pés juntos que a pequena jovem colocou várias pedras enormes dentro dos bolsos do vestido e caminhou em direção ao lago até se afogar, com o peso que carregava não poderia retornar caso se arrependesse.
E você deve estar se perguntando sobre o padre. Bem, o padre Caronte foi encontrado enforcado em uma árvore em frente a minha casa. Todos pensam que tenho alguma ligação com o acontecido, mas ninguém acreditaria em uma única palavra minha, eu não tenho mais nenhuma credibilidade nessa cidade.
Caro Felipe, você é o único que sabe da verdade, por favor, me ajude a contar isso ao mundo. O padre Caronte foi o homem mais maligno e satânico que já pisou no planeta terra. Estou até com medo que o demônio coloque a sua alma para vir aqui atrás de mim. Sempre imaginei que Apophistyphon seria uma cidade conhecida por algo bom e não por causa do estranho caso dessa jovem...
FIM?


Ps. Ao terminar esse conto, seu autor foi encontrado misteriosamente morto com um bilhete sobre seu corpo gélido. Era uma noite fria e gélida onde as nuvens pairavam baixas e opressoras. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, mas dizem que o mistério gira em torno do caso relatado nas páginas anteriores. Se você, leitor descobrir algo, escreva uma carta para alguém de Apophistyphon explicando o que aconteceu. Não sabe onde fica Apophistyphon? Não se preocupe, pois você jamais achará essa cidade, o barqueiro desse lugar, encontrará você primeiro para que juntos, possam ter uma conversa sem hora para acabar. Até breve! 



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A imagem cedida por Allan Cassiano.


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