CRÔNICA: DOMINGO É DIA DE FUTEBOL!
Por Bruno Coriolano de Almeida Costa
Domingo é mesmo um dia diferente na vida de todo brasileiro que se prese; é dia sagrado para quem tem sangue tupiniquim na veia. Não seria diferente para Reginaldo, um flamenguista apaixonado pelo time. Ele nem sabia pronunciar direito o nome do clube do coração.
– Hoje tem jogo do Framengo – dizia ele.
Não adiantava corrigir. Era o mesmo que mudar a essência; a magia futebolista em seu pensamento limitado. Flamengo e Framengo soavam a mesma coisa na cabeça do Reginaldo.
Chegou então o momento sagrado. Ele tinha que ter certeza de que estava tudo no mesmo lugar, assim como estava no ultimo clássico contra o Vasco da Gama. Reginaldo estava usando a mesma cueca, o mesmo uniforme suado do Mengão e já havia deixado a mulher e os filhos na casa da sogra agorenta, que era vascaína.
Pronto. Olhou para o relógio na parede, que tinha as mesmas baterias do ultimo jogo; ligou a televisão e checou para ver se a esponja de aço, grudada nas anteninhas, estava ajudando a capitar o melhor sinal possível. Não poderia deixar de ouvir as palavras da chamada da partida pronunciadas pelo Galvão Bueno:
– Bom dia amigos da Rede Globo...
Agora vai. É definitivo. Começa com a escalação. Brasileiro que é apaixonado por futebol começa seu ritual pela escalação. É nesse momento que começam as analises também:
– Porra o Sávio não vai jogar. Agora o negocio ficou feio mesmo. – pensou o Reginaldo.
No meio do jogo o Reginaldo já estava quase maluco porque Flamengo atacava, atacava e a bola não entrava. O goleiro adversário parecia uma muralha que não permitia passar nem o vento.
Intervalo. Reginaldo não ficava quieto. É nesse momento que todo brasileiro apaixonado por futebol começa a fazer suas promessas. Agora todos lembram que existe um Deus que pode servir de reforço para o time. Muitos não têm nem certeza, mas para ganhar o jogo vale tudo. Tudo mesmo.
– Se o Framengo ganhar, eu paro de beber às segundas-feiras! – prometeu Reginaldo.
Começa o segundo tempo e o Flamengo volta pior. Não consegue mais se encontrar em campo e toma o primeiro gol. Reginaldo fica desesperado e inicia o processo de arrependimento da promessa que fizera.
– Porra de promessa que nada. Eu prometi ficar um dia na semana sem beber se o meu Framengo ganhasse... Prometi deixar de beber toda segunda-feira. Você sabe o que isso significa Deus? – falava ele de joelhos fazendo pose de reza e olhando para cima como se estivesse realmente vendo o Senhor.
Coincidência ou não, o Mengão empata e de tanto gritar, Reginaldo esquece de que estava há pouco tempo implorando por aquele mísero golzinho e deixa a conversa com o Divino de lado.
Finalzinho do jogo, o Flamengo estava na pressão e Reginaldo com a cabeça atolada no travesseiro. Nesse momento, sua mulher, que voltara mais cedo para casa, fica assustada com o estado da sala: está tudo bagunçado e cheia de lata vazias de cervejas ao redor do sofá.
– Você está maluco, Reginaldo da Silva? – esbravejou a mulher.
Quando se levantava, tomado pelo susto de ser pego de supetão, Reginaldo se vira para a mulher e pergunta:
– O que você está fazendo aqui uma hora dessas?
Nesse momento o Flamengo toma o gol que decidiria o jogo. Resultado final: Flamengo é derrotado.
Como todo brasileiro, Reginaldo procura alguém para por a culpa pelo insucesso do seu time do coração.
– A culpa foi sua. Se você não tivesse chegado na hora errada, o Framengo teria pelo menos empatado.
Depois do jantar em família, Reginaldo se despediu de todos, entrou no quarto e deitou na cama. Depois de passar horas deitado ao lado da mulher na cama fitando o teto, segundo antes de dormir, disse:
– Pelo menos vou continuar bebendo minha cervejinha nas segundas-feiras!
A mulher obviamente não entendeu nada. Quando pensou em perguntar ao marido o que ele queria dizer, o mesmo já estava roncando. O Flamengo perdeu, mas domingo que vem tem outra partida. Já são três domingos seguidos que o Flamengo do Reginaldo perde e ele ainda não parou de beber nem na segunda-feira, terça-feira e quarta-feira. Ah, homem de sorte esse Reginaldo!
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