Por Bruno Coriolano de Almeida Costa
Não poderia ser vingança mais justa do que uma exterminação coletiva de políticos corruptos brasileiros. Estavam todos no voo número 378 da empresa brasileira de turismo aéreo conhecida como AeroBraz.
Na aeronave estavam doze políticos indo de Brasília ao Rio de Janeiro. Depois de passar por sete turbulências, o avião bamboleou e estava em voo rasante direto para um choque inevitável com um terreno baldio. Para muitas famílias, obviamente, aquele seria um dia triste, pra se esquecer, mas para a maioria do povo brasileiro da época, um alivio. Menos ladrão para se preocupar. Nesse caso, plural.
Houve um silêncio; uma batida forte. Silêncio.
Ao termino da batida entre o avião e o chão, todos os deputados começaram a brigar para saber quem seria o primeiro a entrar no céu.
– Eu serei o primeiro porque sou o líder do partido – Antecipou-se um deles.
– Nada disso. Você está sendo cassado e não tem moral para falar com Deus. Portanto, eu irei representar o grupo diante do Altíssimo. – disse outro homem entre eles.
A confusão já era enorme às portas do paraíso e de repente uma voz surgiu e ordenou que todos fizessem silêncio. Caso alguém começasse a gritaria mais uma vez, todos seriam mandados direto pro Inferno. Sem julgamento justo ou segunda chance.
– Como estou entrando no meu dia de folga, vou deixar alguém em meu lugar até amanhã pela manhã. – Falou São Pedro.
– Mas santo tem folga? – Sussurrou um dos doze deputados, que foi logo silenciado pelo colega com um discreto shhhh!
Ao sair, São Pedro chamou um jovem de feições familiar aos políticos e pediu que fosse justo e rápido em relação à investigação da vida de cada um para poder pesar a quantidade de pecados deles. Essa era a forma que se fazia no céu: Pesava-se o pecado de cada um.
Na manhã seguinte, São Pedro volta para seu posto: guardião da porta do Céu, e percebe que não tem mais ninguém ali esperando na frente.
– Bom trabalho. Já mandou todos para o Capeta? Aqueles caras são todos um bando de corruptos. A presença deles aqui no céu só iria nos trazer dor de cabeça. Ainda bem que escolhi você para tomar essa decisão.
Houve um momento breve de silêncio, mas São Pedro continuou:
– Eu sabia que escolher um brasileiro para tomar essa decisão foi acertada. Você passou no teste. Foi just... Quando estava prestes a completar a palavra “justo”, Pedro foi pego de surpresa.
– E aí Pedrão! Como estão as coisas? Puxa... Você realmente voltou a trabalhar no horário, eim? Você tem palavra mesmo. – Falou um dos políticos.
São Pedro não entendeu nada e virou-se para o seu substituto e perguntou o que estava acontecendo.
– O que esse homem está fazendo aqui dentro do céu?
– Tinha muito papel aqui para analisar; muito documento e eu ia levar um dia todo para pesar os pecados de cada um desses políticos. Decidi deixar logo todo mundo entrar.
– Mas como é possível? – Disse São Pedro já se irritando.
– Primeiro, eles me prometeram um cargo assim que conseguissem ganhar uma eleição aqui no céu e depois de morto, você ainda me dá trabalho para fazer?! Quando eu era funcionário público lá na Terra eu trabalhava no dia que queria e ninguém dizia nada. Eu vou trabalhar depois de salvo? Vou nada. Já consegui minha estabilidade aqui no céu. Todo problema que vier agora é problema seu. – Deu as costas logo após terminar de falar.
– Isso é o que eu chamo de raça ruim essa raça brasileira. Nem no céu respeitam ninguém. – Completou São Pedro olhando em direção para a Terra.
Crônica criada em dezembro de 2005.
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