Custou, mas eles tomaram tino. Essas diferenças – digamos logo, desavenças – entre o inglês escrito nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Grã-Bretanha e outros países bobalhões irão, finalmente, depois de mais de 500 anos, passar por uma faxina total.
Miraram-se no exemplo dado por Brasil (a economia que ronda os ianquis) e Portugal (o país onde taxista não joga ronda no ponto) e vão unificar suas respectivas línguas, que, no seu falar, é quase idêntica, à exceção das pronúncias e idiossincrasias locais, mas, uma vez posta no papel, causa vertigens e insultos cerebrais.
Como dois dos principais países a utilizar o instrumento de trabalho de Shakespeare e Thomas Pynchon não possuem uma academia de letras, seja por atraso, esquecimento ou vilipêndio, ficou a cargo dos governos, mediantes nomeações, e dos editores, mediante mirabolantes jogadas, dar uma ordem na centenária confusão reinante.
Voltaram-se, os interessados, principalmente para o homem comum, aquele que já leu mais de um livro, costuma folhear um jornal e, já que apesar dessa crise toda o turismo continua, aquele mesmo que faz fila e vai de um lado para o outro do oceano ver para crer e, conforme o lugar-comum de sua mente, jurando por Deus que viajar abre caminhos mentais.
Foi notado que muita gente supostamente boa, inglesa ou americana, estava dando com os donkeys in the water, para empregar no idioma de Herman Mellville e Charles Dickens, uma expressão nossa, isto é, luso-brasileira, quando confrontada com mistérios inexplicáveis e indecifráveis.
Acontece que, hoje mesmo, se um cidadão de Slough, na Inglaterra, por mais informado que seja (e não o são), chegar em Nova York e quiser ir ao teatro e ver de perto uma atração local que só conhece de cartão postal vai ter que rebolar, rebolar, rebolar.
O camaradinha abre o guia que comprou no aeroporto do lado americano, onde tudo é mais barato, e procura lá uma boa peça com devida recomendações. Não vai encontrar.
Por quê? Porque os locais desconhecem o idioma de Evelyn Waugh e, no índice, nosso pobre amigo só encontrará theater e não theatre. Perplexo, acabará voltando para o hotel depois de ir ver, em 3D, a recente versão ultra-maquiada do Titanic, de James Cameron.
Do outro lado do Atlântico, o dono do armarinho The Golden Needle, da cidade de Dayton, no estado de Ohio, entrou no quarto de hotel e, depois de combinar com esposa e filha mais velha o lanche no McDonald's, sabia-se que ele mais família estariam sedentos de cultura. Logo, claro, o remédio é um musical do Andrew Lloyd Webber (Webbre?).
Taca a procurar nos folhetos que o hotel 3 estrelas adianta. Voa para a seção de theater e, sabemos, nada irá encontrar. Resigna-se e vai ver os outros turistas dando de comer aos pombos na praça Trafalgar.
E assim, e por diante vai, com mil coisas. Um e outro, americano e inglês, não entenderão ou se entenderão com colour e color, humour e humor,meter e metre, para não falar de tempo de verbos, ordem no dia, mês e ano da viagem, palavras obscuras como queue em vez de uma simples e estrelada line. Foi tudo um engano. Alguém a ambas as famílias turistáveis deveria apologise. Ou será apologize?
Está tudo engatilhado. Assim que o Afeganistão for deixado a seu destino ou sina terão início os trabalhos de unificação ortográfica.
Mais uma vez mostramos, com Portugal na rabeira, como se chegar a uma das 10 maiores economias do mundo sem muitos mortos ou feridos e engordando os bolsos desses santos desbravadores, os editores de livros e periódicos.
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