Já venho notando que minha leitura diminuiu. Sim, estou lendo bem menos do que costumava fazer alguns anos atrás. Se me perguntarem “qual foi o último livro que você leu?”, não sei se serei capaz de lembrar. Isso mesmo, com exceção de alguns livros técnicos, não me lembro da ultima vez que li por prazer e não pressionado por alguma necessidade de escrever um artigo, corrigir algo ou encaminhar algum documento que me chegou de ultima hora.
O que venho mostrar nesse texto, diga-se de passagem, bem escrito, é que nós estamos lendo cada vez menos e pior. Menos porque não estamos mais nem chegando à segunda página dos textos porque são tantas informações que nem nos desafiamos e descobrir o final de cada mensagem nele contida. Pior porque a qualidade, até mesmo de grandes jornais, caiu muito. Leiam esse texto e descubram, ou melhor, entendam do que estou falando.*
*nota de Bruno Coriolano.
Escrito por Rodolfo Araújo
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Crédito: Victor Affaro |
THE SHALLOWS: WHAT THE INTERNET IS DOING TO OUR BRAINS?
Desde seu provocativo ensaio Is Google Making Us Stupid?, Nicholas Carr vem discutindo a forma como a Internet e sua ubiquidade vêm transformando não só a maneira como vemos o mundo, mas também nossos relacionamentos e, em última instância, nossos cérebros.
Em The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains (W. W. Norton & Co., 2010), Carr contextualiza o assunto através das várias revoluções ocorridas desde que começamos a viver em comunidade - como os mapas e o relógio - concentrando-se, ainda, nas mudanças relacionadas com o armazenamento e a transmissão do conhecimento.
Antes da escrita, conta o autor, todo o conhecimento acumulado por uma geração era transmitido à seguinte de forma oral. A quantidade de informação limitava-se, portanto, à memória das pessoas, ajudada por rimas e canções, mas atrapalhada por versões e interpretações.
Como ainda representava a derivação de uma tradição oral, a leitura era feita em voz alta. Parte disso era para tentar decifrar o que o emaranhado de letras significava, já que não havia espaços entre as palavras, tampouco regras gramaticais ou de sintaxe definidas.
Somente quando a escrita passou a ser padronizada e os espaços foram introduzidos, o leitor pôde dedicar-se mais ao próprio significado do texto do que ao ato de entendê-lo. A leitura passava a ser, neste momento, um exercício de introspecção e reflexão, criando uma ética toda própria, abrindo caminho e disponibilizando as ferramentas para as revoluções culturais seguintes.
As inovações posteriores trataram de difundir e popularizar a escrita e a leitura. Tanto a prensa de tipos móveis quanto o barateamento do papel impulsionaram o mercado editorial, multiplicando o volume dos impressos. Quantidade e qualidade estabeleceram indústrias seculares e resistiram à chegada do gramofone, do cinema, do rádio e da televisão.
Mas de acordo com Nicholas Carr, no entanto, o livro está prestes a sucumbir à Internet. Ainda que esta afirmação pareça lugar-comum a cada lançamento de e-reader, os motivos são diferentes e preocupantes. Para ele, a dinâmica da Rede vem alterando os mais básicos processos cognitivos envolvidos na leitura, inclusive em nível biomolecular.
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Antes de prosseguir, Carr precisou destruir um dos mais arraigados - e errados - mitos sobre o cérebro humano: a falácia de que ele se define inteiramente nos primeiros anos de vida. A maior parte da nossa estrutura neuronal constitui-se nesta fase, de fato, mas estudos recentes sugerem que novas conexões podem ser formadas, desde que haja estímulos para isto - do mesmo modo que estruturas ociosas também são desfeitas.
Pacientes que tiveram áreas do cérebro comprometidas por traumas ou tumores conseguiram que outras regiões saudáveis assumissem suas atividades, reforçando a tese da neuroplasticidade. Mas assim como esta flexibilidade ameniza, em certo grau, o determinismo genético, as habilidades abandonadas desde cedo podem ser irremediavelmente perdidas, conforme suas estruturas são redirecionadas.
Ainda que a desatenção seja o estado natural do nosso cérebro, nos últimos quinhentos anos conseguimos nos reeducar para realizar atividades intelectuais mais complexas. Tais alterações não ocorrem no âmbito genético, mas através da educação e convivência, moldando o cérebro de acordo com as necessidades específicas de cada indivíduo, cada contexto.
As últimas décadas, porém, parecem ter iniciado a reversão deste processo. Quando uma página de Internet nos bombardeia com banners, pop-ups, cores, sons, vídeos e outras distrações - além dos onipresentes emails, mensagens instantâneas, SMS, BlackBerries e iPhones - está minando nossa capacidade de concentração. Ler um texto com hyperlinks implica perguntar-se constantemente se devemos clicar ou não - e o mesmo vale para banners, pop-ups e que tais. Percorrer a tela com um mouse demanda uma atividade motora mais complexa do que virar páginas.
Navegar na Internet requer, portanto, uma série de atividades cognitivas que concorrem com a interpretação e processamento daquilo que se lê. Isto consome, por conseguinte, boa parte da nossa memória de trabalho, dificultando sua posterior transformação em memória de longo-prazo.
A acelerada dinâmica da Internet promove, paulatinamente, o estilhaçamento da nossa atenção, comprometendo-a não apenas enquanto estamos online. A outrora agradável leitura de um livro tornou-se, para muitos, um impossível exercício de concentração. Quando perde-se o foco, vai-se também a capacidade de raciocinar de forma coerente e criativa. A festejada plasticidade neuronal representa, então, uma via de duas mãos, pois os maus hábitos podem ser incorporados tão facilmente quanto os bons.
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Em seu clássico Understanding Media: The Extensions of Man, Marshall McLuhan já alertava que este tipo de problema poderia acontecer, na medida em que o foco da mensagem migra para o meio em que ela transita. Nos idos de 1964 McLuhan escreveu que nossas ações e pensamentos sofrem mais influência do meio de comunicação do que do próprio conteúdo, no longo prazo. Para ele, "[Os] efeitos da tecnologia não ocorrem no nível das opiniões e conceitos, mas na alteração de padrões de percepção, de forma contumaz e sem resistência".
Esta nova relação com o texto escrito parece não chamar a atenção porque as mudanças foram sutis e graduais. Além disso, procuramos prestar atenção apenas no que lemos - e não na forma como lemos. Mas as publicações de hoje têm mais fotos e menos textos.
Claro que a evolução da tecnologia traz também enormes benefícios, prossegue Carr, como mais acesso a um número maior de obras. Outra vantagem é que com a possibilidade de constantemente revisar e editar sua obra, o autor não tem mais a pressão de escrever um texto perfeito logo na primeira tentativa.
Nada disso vale, contudo, se ninguém quiser ler. Se ninguém tiver paciência para chegar até o final de um texto que precise de mais de dois Page Downs. Ou se o autor - que também é leitor - não conseguir sair da superficialidade em que todos parecem estar se afogando.
VAMOS VER QUANTOS LERAM ESSE TEXTO ATÉ O FIM. SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, DEIXE SEU RECADO NA PÁGINA DE RECADOS DO BLOG. NÃO PRECISA ESCREVER MUITA COISA, APENAS "EU LI TODO". NÃO É UM TESTE DE POPULARIDADE, MAS UMA FORMA DE VOCÊ MESMO SE POLICIAR. SERÁ QUE LEU MESMO ATÉ O FIM?
7 comentários:
"Eu li todo"
Este assunto vem me interessando muito, principalmente por eu ser um entusiasta da internet.Isto não quer dizer que ao mesmo tempo não venha fazendo as minhas observações, muito principalmente com o jovem que noto ter uma grande agilidade mental, mas com nível cultural muito baixo. E por incrível que pareça, muito mal informado. Para a pessoa curiosa e desejosa de conhecimento é um mundo!Uso o computador durante o dia e nos fins de semana também não. Reconheço que estou lendo menos mesmo assim...
Gostei muito de ler o seu escrito e obrigado pelos esclarecimentos.
Paz e Bem.
Roberto R. Lopes - 77 anos
rorelopes@yahoo.com.br
Valeu pela leitura, mas o texto não é de minha autoria. Sim, a internet está nos fazendo cada vez mais burros. São muitas informações e nós parecemos que ainda não nos acostumamos com a velocidade que recebemos as mesmas.
Concordo com o amigo acima, nos meus tempos de internet desde 1997 não tinha muitos sites, as letras eram grandes, poucos links de artigos, não tinham muitas opções. Hoje você abre uma página, são tantas as opções e a nossa mente começa a ficar sobrecarregada de tanta leitura, confesso que hoje já não tenho mexido tanto na internet como antigamente.
Eu li todo.
Eu li todo.
Eu li todo.
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